terça-feira, 31 de outubro de 2017

Apóstolos hoje - Outubro de 2017

O DIÁLOGO NO CAMPO DA ECONOMIA
A Economia é uma das Ciências Sociais que nos ajuda no correto funcionamento de um mundo desenvolvido segundo a vontade de Deus e o que resulta das palavras escritas na Bíblia, Gênesis (1,26): e Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança, que reine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, sobre todos os animais selvagens e sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra.”
Este é o mundo que recebemos como dom, desde a origem da criação, com a finalidade de uma correta gestão, ativa e cuidadosa. A administração ativa e cuidadosa (domínio) não é recomendada somente pelo Evangelho, mas também pela lei particular, estabelecida pelas nossas Congregações e ainda pela União, como foi enfatizado pelo Padre Friedrich Kretz SAC, na sua introdução ao texto sobre administração econômica da Sociedade.
Este “domínio” expresso na ciência econômica consiste no método e no uso de vários instrumentos para a “administração”, vale dizer uma gestão responsável, que cuida daquilo que nos foi dado e confiado.
Para poder cuidar conscientemente, da administração segundo a vontade de Deus, é necessário incluí-Lo neste diálogo, como Criador daquilo que nos foi dado como dom. O Diálogo na Economia, o diálogo de Deus, ocorre em diversos níveis: comunitário e pessoal. Este diálogo diz respeito a todos, pessoalmente, segundo a própria situação e condição. Este interessa ao proprietário, ao gerente, ao supervisor, ao funcionário e a quantos participam do fruto do próprio trabalho. Somos todos protagonistas no mesmo diálogo.
Deixamos a Economia global aos espertos deste mundo que, como nós, deverão ao final prestar contas da sua administração. (Lc 14, 25-33).
Continuando esta reflexão, quero partilhar a minha experiência pessoal de diálogo na área da Economia, a respeito do meu relacionamento com Deus, com outras pessoas e comigo mesmo; oferecerei algumas indicações, talvez até algumas sugestões, modelos que foram muito úteis para ajudar-me a permanecer ativamente comprometido neste diálogo.
A essência no início deste difícil diálogo com Deus, na gestão da propriedade, é um convite do próprio Deus de trabalhar, ganhar, economizar, gastar e administrar. O fruto deste convite é a libertação, dada por Deus mesmo: todos os bens pertencem a Ele e tem n’Ele o seu início. Colocar Deus em primeiro lugar – porque nem tudo depende exclusivamente das minhas capacidades pessoais, da educação, da minha descoberta, da necessidade de possuir e de criar um mundo à minha imagem antes da imagem d’Ele – é um ato de confiança que ao invés de dizer “Jesus, eu confio em mim”, dizer “ Jesus, eu confio em Ti
Muito tempo passou antes de entender e aceitar tudo isto, que se tornou uma espécie de conversão, metanóia e libertação. Tal conversão provavelmente é mais difícil para os leigos, porque a vida deles é muito ligada às habilidades que possuem para adquirir tais bens; mas esta conversão é necessária também na vida consagrada para compreender a vontade de Deus, quanto a posse e administração desses bens materiais.
A consciência que aquilo que tenho não é meu, mas algo que recebi para administrar bem, muda a maneira de olhar o mundo, o trabalho, o ganhar, investir e conservar. É uma conversão que dá vida como dizem as Escrituras: “Convertei-vos e vivereis”. (Ez 18,32). Não é fácil adquirir tal consciência, cada dia exige conversão, oração, diálogo, dando uma “relação de gestão”, uma contínua renovação da amizade com Deus, ao qual tudo pertence.
São Vicente descobriu recursos econômicos pertencentes de modo exclusivo a nosso Senhor Jesus Cristo e como patrimônio dos seus pobres. (cf Lei SAC n. 26).
Na realização do meu trabalho, no meu diálogo cotidiano com Deus, procuro dar o meu tempo completamente a Deus, minhas capacidades, minhas decisões, meus colaboradores, funcionários, e as pessoas que encontro durante o dia, com o objetivo de ser um instrumento útil “na vinha do Senhor”
Na oração, junto a Deus, encontro as soluções dos problemas profissionais ou outras tarefas a mim confiadas. Às vezes a resposta vem imediatamente, mas com freqüência preciso de mais tempo para que meu coração seja aberto e pronto.
O melhor lugar e momento para falar destes temas ligados ao trabalho são na Sua presença no Santíssimo Sacramento ou no Sacramento da Penitência. Nestas duas realidades de Sua presença, a resposta às questões, que lhes dirijo, chega ao coração ou diretamente aos ouvidos. Muitas vezes confio meu trabalho e meus deveres profissionais a Deus, através dos Santos, mas sobretudo a São José operário.
Ó, São José, protetor de Jesus, esposo castíssimo de Maria, que passaste a vida no cumprimento perfeito do dever, sustentando com o trabalho manual a Sagrada Família de Nazaré, protege com bondade a nós todos que, confiantes, a ti nos dirigimos.Tu conheces as nossas aspirações, nossas angústias e nossas esperanças: e a ti recorremos, pois sabemos que tu nos compreendes e nos proteges. Também tu experimentaste a provação, a dificuldade, o cansaço; no entanto, mesmo em meio às preocupações da vida material, teu espírito repleto da mais profunda paz exultou de inefável alegria pela intimidade com o Filho de Deus, a ti confiado, e com Maria, sua dulcíssima Mãe. Permite que também nós compreendamos que não estamos sozinhos em nosso trabalho, mas saibamos descobrir Jesus ao nosso lado, acolhê-lo com a graça, guardá-lo fielmente como tu fizeste. E faze que em cada família, em cada ambiente, em cada laboratório, onde quer que um cristão trabalhe, tudo seja santificado pela caridade, paciência, justiça, pela busca do bem, a fim de que desçam em abundância os dons da predileção celeste. Amém       (Oração do Papa São João XXIII)
Confiar, descobrir e consentir que Deus nos guie, ajuda-nos a entrar em diálogo pessoal com Ele, às vezes nos permite avaliar uma situação econômica particular e, se necessário, de fazer escolhas concretas.
Propomos um exemplo particular.
Uma vez, contemplando os Mistérios Gozosos do Rosário fiquei impressionado com o fato que no próprio significado dos mesmos é possível encontrar uma resposta a respeito da oportunidade de escolher um particular serviço econômico e criar um estudo sobre sua “viabilidade”.
No início, antes de uma nova idéia de trabalho, de produção, projeto a ser realizado, deve-se seguir a lógica da Anunciação: um certo pensamento, a iniciativa de Deus, o chamado do Anjo: “Podes fazer”, ou “talvez isto pode ser importante fazer”. A Anunciação é um início exato do processo, a concepção de uma idéia, é o verdadeiro início. A Anunciação é também o pulsar das batidas do coração, uma “tempestade cerebral”, quando aparece uma “nova” idéia maravilhosa. Mas no Mistério da Anunciação há ainda muita incerteza, uma resposta ainda a ser dada: qualquer coisa acontecerá? O que será? É realmente a vontade de Deus?
O próximo passo é fazer uma outra avaliação, para procurar reduzir o risco e ver se a nossa idéia é original, única e inovativa, porque somente tal característica e o modo de agir a nossa idéia podem garantir seu futuro sucesso (e mostrar se verdadeiramente é “inspiração de Deus”). É importante confrontar nosso projeto, com aquilo que já está no mercado, para ver se há algo semelhante a nossa idéia. Com freqüência há muitos produtos semelhantes, mas somente alguns tem sucesso. A visita de Maria a Elizabete confirmou que o filho era o Messias. O filho de Elisabete mostrou de ser “profeta”, indicando e revelando no filho de Maria, o “Messias” prometido, “Consagrado do Senhor”.
Caso a sua idéia é “inspiração de Deus”, pode cantar o Magnificat e acolhê-la como um instrumento nas mãos do Pai, para ajudar a “salvar o mundo”. Se diz que se trata de um “profeta”, a decisão de dar-lhe vida recai sobre você, mas a possibilidade de sucesso pode ser muito mais difícil de alcançar.
Vamos ao Mistério do “Nascimento”, um nascimento no qual a idéia se torna realidade e completa o plano da criação de Deus. Este Mistério se pode meditar depois, da revelação aos pastores, a Epifania do “Nascimento” e assim por diante, como sugere o Senhor. O nível do detalhe deste projeto pode ser elaborado no decorrer do diálogo, que inicia onde e quando Deus é convidado.
No Mistério da “Apresentação do Senhor”, somos convidados a entregar a Deus, aquilo que já, a Ele, pertence. Meditando este Mistério, procuro às vezes compreender a natureza da ação de Deus em mim, que trouxe a realização da idéia, para colocar tudo novamente sob os seus cuidados. Nesta oferta há também uma dimensão pública, que inclui a promoção, o marketing e todas as suas conseqüências.
No Mistério do “Encontro de Jesus no templo”, nos encontramos diante do problema da sustentabilidade do produto. Se o produto ficou no mercado por doze anos e continuamos a encontrá-lo na economia divina que cria e desenvolve o mundo, (mesmo que seja uma coisa pequena, visto que não sabemos quem e o que nos orientará no futuro) significa que conseguimos o equilíbrio, no campo econômico e no campo de Deus, ao mesmo tempo.
Em outros Mistérios do Rosário podemos encontrar outras conexões, comparações e sugestões, mas deixo isto para a meditação pessoal.
Um exemplo de conexão entre a oração e reflexão dos Mistérios do Rosário, na abertura ao diálogo na economia da vida cotidiana, é uma atitude que, talvez, não seja a melhor, mas que mostra a possibilidade de procurar e encontrar um espaço de diálogo econômico numa esfera exclusivamente ligada ao contato com Deus.
O diálogo leva sempre a cooperação, a esta “cooperação santa”, e não somente com Deus, mas também com as pessoas que convidamos a colaborar.
A finalidade de cada diálogo é sempre a de compreender melhor a outra pessoa, a sua fé e aprofundar a compreensão da própria fé, no ser apóstolo onde Deus nos envia.

Perguntas para reflexão pessoal e comunitária:
1.     Ter consciência e o sentido de responsabilidade que toda a minha vida (compreendendo o dinheiro e as finanças na vida cotidiana) e todas as ações constituem minha participação ao plano da criação de Deus para o mundo?
2.     O meu diálogo com Deus envolve também a questão da minha vida cotidiana, do trabalho, da gestão dos bens?
3.     Qual é minha responsabilidade no local onde trabalho e com as pessoas com os quais trabalho? Rezo pelos meus chefes, funcionários, colaboradores e superiores?

                                            Marek Kalka,
UAC Polônia

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